sexta-feira, 3 de junho de 2011

PÍLULA DOS PARÊNTESES - Número 11


Para quem julga que não vivo dias de interesses comuns (como já afirmaram), daqueles de cada um, ou que invento uma coisa que se dá como real, tal qual Gutenberg, entre as histórias, os tratados e encontros que conto aqui (como também já divulgaram), meu dia, do nascer ao pôr do sol, é absolutamente regulamentar, fluxo e refluxo do mar. Primeiro, tenho, mais restritamente, uma manhã desaparecida, no tempo, na ordem e no lugar. A crise (quase que efetivamente física) de não conseguir despertar, vai mais longe do que eu posso supor. Chego a cogitar, entre um sono e meio, que, se não irei desempenhar um esforço (por receio), daqueles de sol a sol, pelo menos darei ordem ao tumulto do meu quarto. (Ledo engano). Segundo assim, marco com meu próprio nome que um quarto desorganizado vai do templo interior ao pendor. O máximo do adormecimento que registro é o acalento de um sonho com Sil. Ela me levou para um canto e disse assim, terminante: "Você precisa, de agora em diante, cuidar da respiração". Hein? Então, entre projetos intermináveis (que pouco resta a intenção de fazer), planos emperrados, palavras em revisão, jornal que já passa do prazo e a anatomia incompleta do coração, algumas coisas resistem (e podem dizer pelo dia, ou pelo ar). Sento com o pequeno grande Ícaro para falar de poesia ou traçar uma recuperação (em Matemática, claro), faço uma audição desatenta de Charlotte Gainsbourg e canto baixinho a chanson. Se bem conheço as reações do meu corpo (e só eu mesmo posso fazê-lo), devo estar a qualquer momento, entre o vento e a umidade (já que os mesmos não posso ser). Devo apanhar uma chuva, para não olhar o espelho e (dizer que) foi tudo refletido em vão. E duas boas circunstâncias eu descrevo: Raul passou de bicicleta e voltei a encontrar Natália, a loira (Ah, as esquinas dobradas da vida). Deixaram o exemplar de uma revista sobre a mesa. O título: "O Poder da Autoajuda" (para mim?). Passei um traço em linhas dignas de nota. Numa delas, um escrito sobre os esquecimentos, os enganos dos sentidos e outros lamentos coletivos. Noutra, o trecho de alguma coisa dita, no ar em movimento, por Michael J. Fox (de volta para o futuro, pois). Para quem julga (ser) estranho que eu encare minha mortalidade, até que aprendo algumas lições. Meu jeito de ver as coisas (vai) além das necessidades e das canções. Minha habilidade em (bem viver) dias santos além de outros tantos. Minha recompensa (muito além) da paciência. E, aqui ditos, meus dias (na face externa) dos parênteses descritos.

Marco Antonio J. Melo

7 comentários:

  1. Já te disse que vc é gênio?! Sei que tenho sido uma bitch com todo seu marketing ultimamente, mas é pq AMO te pertubar...
    mas fique sabendo que mesmo sem vc mandar sempre gosto de passar por aqui pra saber o que essa cabecinha doida e brilhante anda pensando...como sempre umas coisas que me faz trabalhar definitivamente o lado direito do cerebro rsrs vc é demais marquito'sss!!

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante o seu texto, Quinho. O parêntese, marca constante em nossas vidas, deu uma força extraordinária ao dito e não dito.
    É impossível não falar do caráter rico do texto, sua plástica e forma de atrair a nossa atenção e nos prender à leitura sem preguiça, fato que muitas vezes, se apossa do leitor atual, que, envolvido com o corre-corre do dia a dia, perde a oportunidade de uma boa leitura. Seus textos, riquíssimos em conteúdo, oferecem o exigido e alimentam almas sequiosas do saber diferente do trivial.
    Rendo-me sempre às evidências (mesmo que com certa dificuldades, fruto de todas as cabeças duras, o que reconheço que sou), e aqui, louvo-o pelo que você é e tem para oferecer (e que, evidentemente, oferece). Não rasgo sedas, falo a verdade. Você é Você: um marco, o Marco.

    Beijos da mama Elva

    ResponderExcluir
  3. tinha séculos q não tomava sua pílula, nossa e como o sabor dela se refinou. tornou-se mais macia, desliza na garganta numa fluidez e demora pouco pra se juntar a corrente sanguínea. enfim, remédio imediato pra alguns dissabores da rotina. e os parênteses? são todas as interseções q a gente faz quando conta um fato. pílula tomada, dia melhorado.

    ResponderExcluir
  4. Ei Marco... Fiquei aqui pensando no que a gente pensa quando coloca esses parênteses... Explicação, auto-afirmação, negação...?? Sei lá! Mas o que sinto mesmo é que, as vezes, alguns texto sem os parênteses e alguns parêntes sem o texto, ficam meio fora do entendimento, fora da beleza,fora da mágica e da arte da escrita.
    Oh, pílula angustiante e provocativa, efeitos colaterais de grande admiração pelo farmacêutico (neste caso o escritor). Um dia eu te faço um comentário em forma de verso, porque o seu incômodo me agrada! rs =D Grande Bjo!

    Denise Viana
    psicopoeta-denny.blogspot.com

    ResponderExcluir
  5. Seu jeito de palavrear carrega um fascínio cativante.

    ResponderExcluir
  6. Parênteses, muitos nos definem, outros não dizem nada a nosso respeito. Alguns mudam totalmente nossos caminhos, outros não fazem diferença. Como prometi, foi meu "bom dia", Sr. Marco. (rs) Abraço

    ResponderExcluir
  7. Renasceu um tanto menos decifrável.
    Eu gosto.
    E agora? O que pretende para os seus próximos últimos 6 meses de vida?

    ResponderExcluir